7 de jul. de 2009

Baú do blog/2.

Eu costumava escrever bem (quanta modéstia, hein?!). Ainda mais quando falava da minha tristeza...
Hoje, a tristeza passou. O que me pega agora é outra coisa, uma coisa mais complexa, que ainda vai ser postada aqui.

Do meu caderninho de rascunhos... 17/04/05
O silêncio era avassalador. Ele não dava uma palavra e ela, antes tão falante, também não ousava balbuciar algo, uma bobagem que fosse, só pra tornar a curta viagem mais agradável.
A sensação que tinha era que devia falar, procurar o que dizer, mas não encontrava palavras, não encontrava forma de puxar assunto. Achava que o silêncio o incomodava, já que incomodava a ela, mas não dava o braço a torcer. Aliás, a questão não era de teimosia, era pior. Instalava-se nela, dia após dia, uma quietude irritante. A quietude a fazia emudecer, lhe tirava o sono e lhe dava olheiras.
Ele puxou um assunto qualquer. "Até que enfim, agora a conversa fluirá", ela pensou. Pensou errado.
Durante todo o caminho, o silêncio prevaleceu. Ela se culpava, se achava estúpida, antipática. Por que não conseguia falar alguma coisa? Puxar um papo que durasse mais que 2 minutos! Simplesmente não encontrava forças para tal fim, não havia o que conversar.
Sentiu-se péssima. A noite toda fora assim. Por vários momentos, ela pensou que não devia ter saído de casa, que dormir era a melhor opção. Porém, não costumava ouvir sua intuição. Agora, passava por uma jornada deveras incômoda, de falta do que dizer e de comentários sobre o que se passava com ela. E o que se passava com ela afinal?Mais de um mês no mesmo estado. Seria caso de médico?
Os altos e baixos no humor lhe indicavam que não - todo mundo tem seus dias.
Quando sentia-se bem, queria pular, cantar, correr, ler, escrever, dançar, viver... Quando sentia-se mal, queria fazer terapia e o escambau. O humor, entretanto, passou a mudar de forma mais constante.
Engoliu suas palavras e multiplicou-as todas no papel.
Tudo que fazia agora era escrever. Sentia em si um imenso vazio, que acreditava, otimista, ser passageiro. Depois de um mês, começava a ter severas dúvidas. Sentia que estava perdendo seu tesouro mais precioso: sua essência. O jeito espontâneo de olhar e falar estava dando lugar a alguém triste, melancólico. No fundo, sabia o que se passava consigo, mas não queria conversar sobre, embora indagações fossem feitas a cada semana.
Tornou-se insone, passou a tomar remédio pra dormir.
Estava ficando cada vez mais longe do que queria ser.
Até que, de súbito, resolveu que não incomodaria mais.
Queria ficar sozinha.
Não sabia como fazer aquilo passar. A sensação de vazio, a tristeza, a quietude irritante estavam criando raízes. A única coisa na qual pensava era dormir. Dormir um sono pesado, por horas, dias, talvez meses. Hibernar. Mas não era urso, era só alguém que estava se desapaixonando pela vida.
Seu espírito estava doente.
Como numa comparação que vira num filme, seu corpo estava flutuando no rio chamado vida. Esbarrava em troncos e pedras e não conseguia evitar isso. Paralisada, sem vontade própria, maltratando o corpo e, pior, o espírito. Estar viva era só existir, de repente. Essa sensação ia e vinha, mas dessa vez alcançava uma intensidade assustadora.
Os remédios pra dormir lhe davam o sossego temporário.
Entretanto, remédio algum seria capaz de curar o que sentia em seu âmago, e que agora externava-se. Seu interior estava enfermo. Ninguém tinha culpa, mas a doença estava lá, monstruosa.
A questão não era quanto tempo suportaria, mas se viveria assim para sempre. Onde estava aquela menina otimista?
Onde está ela? Onde estou eu?

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