17 de ago. de 2009

Escritos/1.

Os invisíveis.

Estão em toda parte. São homens, mulheres, idosos e crianças. Alguns não têm os braços, outros não têm as pernas, mas o que todos não têm mesmo é dinheiro.
Conseguiram a proeza que alquimista nenhum jamais realizou: são invisíveis. A verdade é que os enxergamos, mas fingimos não vê-los. Porém, eles teimam em ser vistos, afinal, precisam sobreviver. "Tio, me dá uma esmolinha?" ou "Ei, moço, me dá dez centavos pra comprar o leite do meu filho?". E por aí vai.
Nós olhamos de rabo de olho, pois eles nos incomodam. É duro encarar a miséria. Passamos e pensamos: "Deixa, eu tenho que cuidar de outros, de mim... Vai aparecer quem cuide dele, coitadinho! E aquela senhora... Aposto que também vão arranjar um abrigo para ela". Temos dó, mas não ajudamos.
Aliás, do jeito que as coisas estão, já nem sabemos quem **merece ser ajudado ou não. Ninguém quer ser passado para trás, não é mesmo?
Enquanto isso, eles se proliferam. Estão nos pontos mais movimentados da cidade, pois é lá que o dinheiro circula. Depois, voltam para os casebres de papelão e plástico. Ou dormem no lugar que lhes é tão familiar: a rua.
Eles não têm, não sabem, não podem. O que vem depois dos verbos é tanta coisa que até pensamos que nossa vida de fazer contas não é tão má. (novembro/2005)

** Nota: Penso que todo mundo merece ajuda. O porém é que todo mundo fica puto quando ajuda alguém e depois descobre que foi enganado... "Porra, dei meu dinheiro para aquele malandro beber cachaça!". Lógico que, cego de raiva, a gente não lembra que pode ter enganado alguém, por um motivo qualquer que fosse, pelo menos uma vez na vida. Que atire a primeira pedra quem nunca mentiu pra levar vantagem ou encobrir alguma coisa.

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