12 de ago. de 2010

Olhares/02

Quando nos conhecemos, ele tinha o olhar cansado, triste. Olhar de quem parecia que ia se matar a qualquer momento.
Eu puxei assunto com ele e ele me deu um de seus trabalhos. Esse homem, artista gaúcho, se chama Jones.
Durante o tempo em que morei na Glória, eu sempre o via. O mesmo olhar. Eu pensava em lhe dar um oi, mas sempre deixava pra lá.
E hoje, eu o vi. E ele me olhou. Ele me olhou, eu disse "oi" e ele me respondeu. Alguns minutos depois, passei pelo mesmo local e lá estava ele, parado com um de seus pássaros feitos de cartolina e arame. Um pássaro gracioso que eu comprei para um amigo.
- Jones, eu me lembro que um dia você me disse que é gaúcho...
- Eu sou de Porto Alegre. Você também é?
- Não... Você não tem vontade de voltar para lá?
- Só a passeio, mas não tenho dinheiro.
- Por que você não se cadastra para viajar de graça pela Base Aérea? Você desce em Canoas...
- É, vou ver isso.
O mesmo olhar triste, a mesma expressão de cansaço. Quando parti, ele me disse: "Tchau, amiga. Vai com Deus". E me beijou a mão. E eu pensei na solidão daquele homem, como eu, um forasteiro no Rio de Janeiro, e por um momento, a solidão dele se confundiu com a minha, que tem outro formato, mas não deixa de existir.

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