03 de setembro de 2004.
Pensando em letras:
Eu sempre quis ter um avô. Um avô que dirigisse uma Brasília cor de creme, que lesse histórias para mim, que me dissesse: “Como você cresceu!” sem parecer piegas (será que isso é possível?) e me levasse para tomar sorvete na mesma praça onde ele jogaria dominó com os amigos. Tentaríamos fazer uma casa na árvore (numa mangueira, que existiria na casa dele, claro!).
Eu também queria uma avó. Uma avó que tivesse um quintal enorme, onde eu sentaria para ler meus livros favoritos. Uma avó que soubesse fazer todos os tipos de doces que só as avós sabem fazer (mesmo eu não sendo muito fã de doces), que acobertasse as travessuras da neta, que tivesse um gato chamado Euclides e uma criação de galinhas no fundo do quintal.
Um dia na casa dos avós seria um dia no paraíso. Eu não precisaria de nenhuma outra criança por perto porque aquele universo seria suficiente para eu me divertir. E quando eu crescesse, meus avós me mostrariam as fotos de antigamente. Nós riríamos juntos, na sala de móveis antigos e, claro, duas cadeiras de balanço.
A casa deles teria um jardim com rosas, um muro branco, baixo, daqueles que de um pulo só você sobe e se senta. Teria uma varanda onde eu ia dormir, durante as tardes, numa rede comprada no interior. Antes de ir embora, eu ia merendar café com pão. Todos reunidos na mesa da cozinha: a vó, o vô, o Euclides, a Maria (o braço direito da vovó) e eu.
Mas isso nunca aconteceu.
Minha mãe lia histórias para mim. Eu sempre tomei café com pão na cozinha. No jardim da casa onde passei 11 anos, tínhamos rosas. Meu pai me levava para comer pizza (o que chegava perto de tomar sorvete - tudo guloseima!). Na minha antiga casa, tínhamos uma criação de galinhas e um jardim com várias plantas e dois coqueiros que rendiam cocos deliciosos. Eu lia todos os meus livros favoritos na casa de uma das tias. Tantas coisas parecidas...
Mas meus pais não poderiam dizer: “Como você cresceu!”, já que vivíamos na mesma casa. Não é a mesma coisa ter crescido sem avós. Naquela época, eu não sentia muita falta. E hoje sinto. É estranho. Guardo com todas as forças as poucas lembranças que tenho da avó paterna. As tardes na casa que também tinha rosas no jardim e um papagaio (que depois foi morar conosco) na cozinha. A Maria fazendo café. Todas aquelas folhas no chão do jardim acimentado... O muro branco, e, claro, a cadeira de balanço da vovó. Eu cheguei perto.
Mas isso já não importa. Eu posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que a infância foi o período mais feliz da minha vida.
29 de jul. de 2009
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