Qual a probabilidade de viajar do Rio até Petrópolis sentada ao lado de um turco que fala português?
Você não sabe e eu tampouco, mas acredito que seja pequena. Entretanto, foi exatamente o que me aconteceu quando eu estava subindo a serra na sexta passada (dia 23).
O livro que estou lendo tava no colo: "Jornada sob o véu", de Shirley Palmer. Na capa, há uma mulher com o rosto e os cabelos cobertos. Meu vizinho de poltrona perguntou:
- Você se interessa pela cultura mulçumana?
- É,... sim. Na verdade, esse livro não é só sobre a cultura... É um romance que se passa na Arábia Saudita. (detalhe: eu resumi pessimamente o livro, mas tudo bem porque ainda tava no começo).
- Ah. Eu nasci num país com a cultura assim, mulçumana.
- É mesmo? Qual país? (bem que eu tinha notado um certo sotaque...).
- Turquia.
Acho que meus olhos soltaram fogos, que nem nos desenhos animados, quando você escuta algo que te deixa realmente contente. Caramba! Ele era TURCO! Güzel! :D:D:D
Conversamos durante boa parte da viagem. Ele me contou sua história. Veio ao Brasil bem jovem, sem saber falar necas de português. Não conhecia ninguém, não tinha dinheiro. Dormiu na rua por 6 meses, até arranjar emprego. Conseguiu se virar porque já falava italiano. Algum tempo depois, conheceu aquela que seria sua mulher até hoje ("temos 55 anos de casados"). Teve filhos, netos. Há algum tempo, voltou à Turquia e levou os netos.
Eu contei a ele como tinha vindo parar no Rio. E, lógico, aproveitei pra perguntar se ele poderia me tirar algumas dúvidas sobre turco:
- O g com til é sempre mudo?
- Qual a pronúncia correta de Nasilsin?
- Está certa essa pronúncia: "çok tesekkür ederim" (falei pra que ele pudesse me corrigir).
Ele me respondeu tudo e perguntou:
- Mas onde é que você aprendeu isso?
- Conversando com turcos!
- Na Internet?
- Sim. Inclusive, o senhor pode me tirar outra dúvida... É sobre a pronúncia dos nomes deles...
Escrevi os que lembrei: Süleyman, Kivilcim (Deniz) e Firat. Mas acho que ele ficaria deveras chocado se eu falasse a quantidade de turcos que há no meu MSN (nem eu sei direito, mas deve ser algo entre 10 e 15)...
- Não sei como se pronuncia esse nome (Kivilcim).
- Bom, ele não é exatamente turco. É curdo.
- Ah. E você conversa muito com Süleyman?
- Agora, já faz um tempo que não nos falamos.
- Você pode dizer a ele as palavras que lhe ensinei quando conversar novamente com ele...
- Hahaha.
- Ele ficaria surpreso, eu creio. Ia perguntar onde você aprendeu! Eu gostaria de lhe encontrar depois só para saber como ele reagiu. Mas vou ficar na curiosidade, pois acho que não nos veremos mais. Mas fale com ele mesmo assim.
Gente, que velhinho danado! Ele queria que eu chamasse o Sü de "meu amor". Escreveu as palavras pra eu não esquecer e me falou a pronúncia.
- Quem sabe é lá que está seu futuro... Com um turco.
Eu sou aberta a muitas possibilidades, então respondi.
- É, quem sabe... hahaha.
Quando já estávamos perto da rodoviária, ele falou:
- Olhe, gostaria de lhe dizer que gostei muito da nossa conversa e desejo sorte a você. Acho que não nos veremos mesmo, mas acho que vai dar tudo certo no seu caminho. Não deixe de crer nisso.
- É, quem sabe... Obrigada.
- Quem sabe?
- É, quem sabe eu ainda não encontre o senhor por aí.
Eu lembrei de uma frase que vi por aí, sobre essa questão de encontros e desencontros:
"El mundo es muy grande para evitar una despedida, pero muy pequeño para evitar un reencuentro".
Na hora, me ocorreu dizer isso a ele, mas preferi calar.
Agora, tenho pensado bastante sobre o que ele disse, que eu não deixasse de crer que as coisas iam dar certo no meu caminho aqui. E tenho pensado em qual é a probabilidade d'eu continuar nesse estado.
29 de jan. de 2009
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Um comentário:
Adorei essa história!!!
Nossa tu deve realmente ter ficado muito feliz!! rsrs
Pq não pego o número do cel dele? ai depois tu poderia falar pra ele o que o outro falou do "meu amor" haha
=*
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